Destruição Criativa ou Reforma?


                   Um termo de John Zerzan me chamou a atenção: destruição criativa. Diz ele que a vida no planeta e seu alto nível de consumo é insustentável e que é preciso um levante violento para quebrar o mercado, provocar o caos, destruir estruturais e os códigos morais/jurídicos que sustentam esse sistema. Advoga destruir estados nacionais controladores e empresas multinacionais que também tem uma engenharia social alienante da verdadeira vida. 
Para que isso ocorra, é preciso a revolta, tomar de assalto a sociedade, estabelecer a violência pois, sem ela, tudo ficará na mesma. Zerzan afirma ainda que destruir, trazer o caos e desinstalar o modus vivendi contemporâneo significa reinstalar o primitivismo humano; não haveria mais as disputas territoriais, o tédio existencial e o esvaziamento do ser. A vida consumista e alienada de si, encontraria sentido em um mundo a construir com valores mais comunitários e amorosos feitos a partir da simplicidade. Essa destruição provocada pela violência social seria criativa. Um tipo de big-bang social formando um universo aonde pulsa a vida.
Essa ideia de destruição e revolta ou de desconstrução do establishment, de revolução promovida por uma classe esclarecida e engajada, é tida como o ápice intelectual, a esperança de um novo mundo construído por "verdadeiros sentimentos humanos" por uma nova "elite intelectual". Como seria belo esse mundo novo, de esperança e felicidade aonde reinaria a paz e a fraternidade universal! Que encanto!...
No entanto, algumas coisas me assustam nessa proposta: 
  1. Quantos deveriam morrer até que esse "novo mundo" tivesse ajustado e perfeitamente funcionando? 
  2. Quantos cadáveres precisaríamos pisotear para que o "bem" reinasse? 
Parece que esse assunto é uma pura "viagem" lisérgica, bicho-grilismo setentista, mas é a utopia tornada ação em muitos movimentos chamados holísticos e sociais, que na maioria das vezes, ignoram o resultado prático de seus postulados. Não visam reformar, visam a revolução. A revolta, a tomada violenta do poder. Ou, estão a preparar a mobilização das mentes e corações para a revolução violenta.
Conhecer a realidade da vida, entender seus mecanismos e contradições, influir na estrutura social, construir alternativas e reconhecer os acertos e os valores seculares de um povo é o caminho que entendo ser o percorrido. Melhorar, aprimorar, rever conceitos à partir da obsolescência de sistemas socioeconômicos não significa destruição de sociedades; significa humildade em aprender com os erros. Significa estudo, decisões equilibradas, profundidade de conhecimento da cultura de um povo. 
Diacronicamente, em uma análise assim, vejo que a Reforma que Lutero trouxe naquele tempo foi transformadora e, paradoxalmente, polpou inúmeras vidas. O sistema religioso de então estava intrinsecamente endurecido e, por isso, os milhares de mortos. Se fosse uma revolução, haveriam milhões de mortos e degredados. Uma reforma tenta preservar o que há de melhor, de não jogar fora a criança com a água da bacia. 
O custo de uma ideia reformista pode ser alto (depende da inflexão do sistema) mas, a revolução é incrivelmente mais destruidora e sanguinária. 
Se uma sociedade, uma família ou pessoa não se reforma quando precisa, que não se reequipa para enfrentar novos e velhos desafios, ela se implode. Num paralelismo antitético da música Epitáfio do Titãs:
"O acaso NÃO vai me proteger enquanto eu andar distraído"

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